Pela segunda vez, desde o início da epidemia global de Aids, um paciente soropositivo parece ter sido curado da infecção por HIV, vírus que causa a doença. Este é segundo caso de sucesso. Há 12 anos, Timothy Ray Brown, chamado de “paciente de Berlin”, foi o 1º paciente livre da doença.
Há muitos anos cientistas e pesquisadores tentam reproduzir o sucesso da cura de Brown, mas métodos são perigosos e já falharam em outros pacientes. A notícia que pode revolucionar o tratamento foi divulgada nesta terça-feira (5) pela revista científica norte-americana Nature.
O paciente, identificado apenas como “paciente de Londres”, recebeu há três anos células-tronco da medula óssea de um doador com uma mutação genética rara que resiste à infecção do HIV. O uso dos remédios retrovirais foi interrompido e cerca de 18 meses depois, exames não mostram a infecção.
“Não existe vírus ali que consigamos medir. Não conseguimos detectar nada”, disse Ravindra Gupta à revista. Ele é professor e biólogo especializado em HIV que coliderou a equipe de médicos que trata o paciente em questão.
Mas Gupta pondera ao afirmar que ainda não é possível dizer que o paciente está curado. Segundo ele, “isso só pode ser demonstrado se o sangue do paciente permanecer livre de HIV por mais tempo”. No estudo, ele descreveu o paciente como “funcionalmente curado” e “em remissão”.
A revista Nature informa que, até agora, o organismo do paciente está respondendo de forma semelhante ao de Timothy Brown. Diagnosticado com HIV em 2003, o “paciente de Londres” desenvolveu um tipo de câncer no sangue que não respondia à quimioterapia ― assim como “paciente de Berlin”. Ambos necessitaram de um transplante, no qual células foram destruídas e substituídas por células-tronco transplantadas de um doador saudável.
Mas, ainda segundo a Nature, o novo paciente recebeu um tratamento um pouco mais leve que o feito anteriormente, para se adaptar melhor ao transplante. Junto com a quimioterapia, foi aplicada um outro tipo de droga que atinge células cancerosas. Enquanto Brown recebeu radioterapia em todo o corpo, além de um medicamento de quimioterapia.
A cura é possível?
Por mais Ravindra Gupta tenha ponderado e outros especialistas se refiram ao caso como “remissão de longo termo” e não garantem que o vírus não irá retornar, outros especialistas classificaram a notícia como “cura”.
“Isso vai inspirar as pessoas que a cura não é um sonho”, disse Annemarie Wensing, virologista do Centro Médico da Universidade de Utrecht, na Holanda, ao NY Times. ”É alcançável. Sinto-me responsável por ajudar os médicos a entender como isso aconteceu para que eles possam desenvolver ciência.”
Os números da Aids no Brasil e no mundo
O Ministério da Saúde estima que cerca de 866 mil pessoas vivam com HIV/Aids no Brasil, sendo 731 mil já diagnosticadas. Até setembro de 2018, 585 mil estavam em tratamento e recebiam os antirretrovirais pelo SUS. O investimento destinado para o departamento de HIV/Aids em 2018 foi de R$ 1,7 bilhão. Os recursos vêm integralmente dos cofres da União.
Cerca de 37 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas com HIV, e a pandemia de Aids já matou cerca de 35 milhões de pessoas em todo o mundo desde que surgiu nos anos 1980.
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